25 de Março de 2023



A vida é uma pizza com várias fatias



Dinâmica, comunicativa e preocupada com a causa social, Helena Painhas tem sido consecutivamente, destacada para o Prémio “40 Líderes empresariais do Futuro”, atribuído pelo Fórum de Administradores e Gestores de Empresas – FAE e Grupo Impresa.



H elena Painhas, engenheira eletrotécnica, CEO do Grupo Painhas SA e mãe da pequena Alice, falou-nos da sua experiência de liderança num setor ainda fundamentalmente masculino.


Start & Go - Liderança no feminismo. Qual a sua opinião?

Helena Painhas - Atualmente faço parte do Conselho Consultivo das Mulheres de Energia, grupo criado pela Agência Portuguesa de Energia, e ainda no outro dia discutíamos essa temática. Na minha opinião a Sociedade Portuguesa é uma sociedade um pouco machista e na minha área de trabalho - na energia - ainda é uma área onde existe, e está provado com números, fundamentalmente homens.

Existe aqui grande discrepância entre homens e mulheres. Na verdade, e já tive algumas situações em que a minha opinião, numa primeira relação ou numa segunda interação, não eram consideradas. Contudo, passado algum tempo o que importa são as tuas ideias e a forma como tu tens,







 ou não, soluções para os problemas. Com o tempo as pessoas esquecem se és um homem ou uma mulher. Já te ouvem, como uma pessoa, e vais ganhando o teu espaço no mercado, dentro e fora da tua empresa, em função da bondade, da capacidade que tu tens de motivar, de levar a fazer, de resolver, de liderar. No fim o que querem é que a pessoa, o ser humano seja homem ou mulher, seja um bom profissional e acho que, por isso, não faz muito sentido a liderança no feminino.


S&G - Como foi chegar a um cargo de liderança?

HP - Obviamente que eu trabalhando numa empresa do Grupo que foi com fundado pela minha família, tive sempre essa atividade facilitada. Foi mais fácil chegar até lá. Claro que me manter, manter o negócio a crescer e a correr bem já é outra questão. Eu acredito que o problema, às vezes, é a mulher poder chegar a essa posição e o caminho que tem de fazer. Depois estando de igual para igual com os homens, a situação já não se coloca e as pessoas acabam por perceber se aquele elemento os ajuda a resolver os problemas e a avançar.

S&G - Como se conjuga os diferentes papeis de mãe, esposa e líder de um grande grupo económico?

HP -Para ultrapassarmos as barreiras que existem na sociedade e mesmo das próprias mulheres, tem de se apostar na educação. Isto porque, muitas vezes as mulheres são muito críticas de si mesmo e de outras mulheres quando atingem uma posição de liderança. A mentalidade tem de ser trabalhada, principalmente em Portugal. Outros países já não é assim. Mas todas as mulheres que chegam a posições de liderança têm uma característica comum, são confiantes. Esta confiança tem que fomentada desde os momentos da escola, do liceu e do ensino básico. A mulher tem de ser ensinada, que consegue chegar até onde o homem chega. É mesmo uma questão de educação e de confiança. De dizerem “eu sou capaz e consigo”. E depois aceitarem também o desafio, pois por vezes é mais cómodo não o fazer. Atualmente, os homens também partilham a educação das crianças. Eu sou casada com um empresário e em algumas situações temos de nos revezar. Um dia está um mais presente, outro dia está mais outro. 





Certo que existe, obviamente, aquele período em que a mãe tem mesmo de estar lá, mas a partir de uma certa idade o pai e a mãe podem perfeitamente fazer as mesmas tarefas e revezarem-se na atenção aos filhos. Por outro lado, a própria sociedade devia-se organizar de forma que facilitasse mais esta partilha. Nós vemos muitas sociedades, tipo a nórdicas, que funcionam muito bem, com horários laborais compatíveis com a paternidade e a maternidade, que no fundo é o caminho. Podemos organizar um horário compatível com crianças e continuar a ser eficientes e eficazes.





S&G - Qual foi o maior desafio de liderança que teve de enfrentar, até hoje?

HP - Foi no início das operações, antes de eu conhecer a fundo os mercados onde estou e até os stakeholders me conhecerem. Quando eu comecei a trabalhar, houve ali um período difícil de adaptação até ao mercado da energia em Portugal me reconhecer. Quando eu fui, por exemplo, para o Médio Oriente em 2007, 2008, com 27 anos e 28 anos, também foi complicado para que os meus sócios e mesmo os meus clientes aceitassem uma mulher no mundo

árabe. Aí também foi complexo, mas depois as coisas passam. Honestamente um outro desafio foi a minha maternidade. É uma realidade completamente diferente. Termos de conjugar, principalmente os primeiros meses e os primeiros anos, tenho uma filha de 2 anos, com o trabalho. Eu, neste momento tenho uma filha sangue e uma de coração. No fundo, tenho 2 meninas que lidam comigo e obviamente que é muito mais exigente. É um desafio, mas que também se consegue resolver com organização, com disciplina e impondo um bocadinho os limites do que é razoável.


Helena Painhas, CEO do Grupo Painhas SA


A vida não é só trabalho, não é só família, não é só cuidar de nós. É uma pizza com várias fatias, temos de ir distribuindo a atenção pelas diferentes fatias e que não são iguais em termos de tamanho em todas as fases da nossa vida.

S&G - De que forma é que a empresa que lidera se preocupa em assegurar o equilíbrio entre todas essas fatias?

HP- Na nossa comissão executiva além de mim faz parte, uma outra mulher que é a CFO, ou seja, nós temos aqui a bastante representação logo ao mais alto nível. Em termos de direção, também temos mulheres.


Em termos de cargos administrativos, há uma boa distribuição entre homens e mulheres, já para o trabalho no terreno, nomeadamente subir a postes com vários metros e para montar linhas, temos mais homens, o que está relacionado com as diferenças de fisionomias.  Na verdade, em termos de engenharia eletrotécnica ainda aparecem muito poucas mulheres formadas no mercado.

Há aqui um trabalho que deve ser feito nos liceus e nas universidades de mostrar que a energia também é uma área adequada para as mulheres e que é muito interessante.



S&G - Se tivesse de nomear um líder que a inspira ou que a inspirou quem nomearia?

HP- Eu não tenho ídolos, não tenho heróis. Graças a Deus tive oportunidade, e tenho ainda hoje, de lidar com uma série de pessoas mais velhas com as quais aprendi imenso. Uns no meu trabalho, outros na minha vida pessoal. Não me sinto mesmo a vontade de escolher um, pois sinto que sou uma privilegiada. As pessoas que foram e são, ainda hoje, meus mentores sabem quem são. E são várias. E eu sou um bocadinho produto de tudo, aquilo que elas partilharam comigo ao longo da vida. Não tenho um líder que eu tenha conhecido que realmente me marcou. Mas tenho uma série de pessoas que, graças a Deus, se cruzaram na minha vida,  que me ensinaram muito.


S&G - O que diria a jovens que querem que querem e aspiram liderar equipas ou projetos?

HP - Sem dúvida nenhuma que tenham coragem, que sejam corajosos, que cultivem a confiança. Esta é a principal característica que um líder tem de ter. Acreditar que consegue o mesmo que os outros, não ter medo dos desafios e não ter medo errar, porque eu acho que quase tudo na vida se pode corrigir. Também ter a humildade de reconhecer os seus erros e de se querer rodear de pessoas boas que os possam complementar. Para conseguir ter sucesso e vencer, a coragem e confiança são as duas características que um líder deve apostar.



seja homem ou mulher, seja um bom profissional.






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