destacar, desde logo, “A Morte de um Caixeiro Viajante” escrita em 1949.
Esta peça de teatro é uma verdadeira tragédia onde quase nada de bom acontece, mas de positivo fica um prémio Pulitzer e um conjunto de frases que são pequenos retratos de uma época que passou.
"Percebi que ser vendedor era a melhor carreira que um homem poderia ter. "
"O velho Dave tinha vendido mercadorias em 31 estados."
"Subia ao quarto do hotel, calçava as suas pantufas de veludo verde, levantava o auscultador, ligava aos Clientes e vendia mesmo sem sair dali."
"Esta profissão tinha personalidade."
Contudo, o que me fica mesmo na memória é a cena inicial, na qual o protagonista entra em palco carregando duas grandes malas, dando algumas pistas sobre aquilo que poderia ser o seu dia-a-dia.
Vendas em Portugal
Li num jornal regional, de uma localidade do interior do nosso país, um interessante artigo escrito por José Ferrão intitulado “Os caixeiros-viajantes”. Apesar de se tratar de um texto relativamente recente, refere-se também a uma época que andaria por meados do século passado. Os excertos que tomo agora a liberdade de partilhar são fotografias muito nítidas de uma época e de uma profissão.
"Os caixeiros eram sempre bem recebidos pelos comerciantes, que ansiosamente os aguardavam e com eles estabeleciam relações cordiais."
"Demoravam-se na vila alguns dias, instalavam-se nas pensões locais e frequentavam os cafés, conviviam e socializavam.
Enredavam o discurso com anedotas e com as últimas notícias, novidades exclusivas que circulavam pela cidade e que os jornais não expunham. A política estava fora dos assuntos."
"Hoje os negócios usam outros métodos, agilizaram-se e baniram contactos pessoais. Mas não podem apagar a imagem que eles criaram, nem o importante papel social e
cultural que exerceram nas populações do interior, tão longe dos centros de onde irradiavam as influências."
A determinada altura o autor refere-se a um vendedor em particular que lhe ficou na memória e não resiste a descrevê-lo.
"Era uma simpatia. Apresentava-se sempre com cuidada elegância e esmero. Rigoroso no trajo e nas maneiras, naturalmente sorridente, perfumado e cativante, fazia jus às exigências da profissão.
Isto ajudava a cativar e favorecia as relações… preparava-se com vasta informação, atualizada e conveniente, estudava e diferenciava os Clientes. Um autêntico e bom mensageiro, que habilmente sabia ambientar-se para melhor preparar o caminho dos negócios, em que costumava ser eficiente e feliz.
Estes exemplos ficam como marcas de tempos mais calmos
e mais humanizados."
A Economia
Quando estudamos a Lei da Oferta e da Procura, mesmo sem aprofundar muito o tema, ficamos a saber que as coisas acontecem… mantendo tudo o resto constante. Esta é obviamente uma abordagem excessivamente leve para um assunto tão profundo, mas o que daqui pretendo retirar é que, num mercado de concorrência perfeita, chegamos à determinação de um preço de equilíbrio partindo de um conjunto de pressupostos que a realidade se encarrega de pôr em causa. Claro que este ceteris paribus tem toda a utilidade para a análise que é feita, mas todos certamente concordamos que a racionalidade e a transparência do mercado não passam de convenientes pressupostos teóricos.
Na verdade, nem sempre a prioridade do empresário é a maximização do lucro, nem sempre a prioridade do consumidor é a maximização da utilidade e, mais importante do que isto, não há por parte de todos os participante no mercado um acesso completo a toda a informação.
A realidade
Começamos por ver que esta
profissão tinha personalidade, tinha um estatuto que permitia estar pelo hotel de pantufas de veludo verde, e acabamos por constatar o importante papel social e cultural que os vendedores exerceram nas populações. Veja-se que o vendedor preparava-se com vasta informação, atualizada e conveniente, estudava e diferenciava os Clientes. Um autêntico e bom mensageiro, que habilmente sabia ambientar-se para melhor preparar o caminho dos negócios, em que costumava ser eficiente e feliz.
Ora começa a ser muito evidente que, naqueles tempos, um dos fatores que mais impactava o sucesso em vendas passava pelo facto do Vendedor ser detentor de muita informação que, pelos mais variados motivos, estava vedada a quem necessitava de comprar. Este brutal desnível entre a informação detida pelos diferentes intervenientes, fazia pender com grande estrondo o prato da balança para o lado do vendedor, aumentando-lhe desmesuradamente a capacidade de influenciar.
Agora, estamos na primeira metade do século, uma guerra abala a Europa e nada voltará a ser como dantes.
O que sabemos é que todas as guerras têm um fim e portanto esta guerra de potências em solo ucraniano também vai acabar.
Vai deixar rastos de destruição e de injustiças mas o velho continente vai reerguer-se e prosperar economicamente.
Claro que Portugal beneficiará do PRR, ainda que tenha que cumprir determinadas linhas de orientação da União Europeia pois não há almoços grátis, mas vai dar mesmo a volta por cima.
E neste contexto, qual é então o papel do atual profissional de vendas?