29 de Dezembro de 2022






VÍTOR BRIGA

Formador de Criatividade e Comunicação




JAPÃO – PRECISAMOS DE RIR!



Rir junto é melhor que falar a mesma língua. 

Mia Couto



H

oje voltamos ao Japão. O encontro de que vos falarei passou-se quando estava em Hiroshima. Após um dia cheio, e já com fome, entrei com a minha companheira de viagem, por mero acaso, num restaurante escondido no bairro onde estávamos alojados. Creio que foi o escolhido porque, numa primeira impressão, parecia muito acolhedor, como aliás são em geral todos os restaurantes para os locais nas cidades japonesas que tive a oportunidade de visitar.

Já não me recordo se foi por não haver mesa ou se foi por opção, mas ficamos sentados ao balcão, um hábito, aliás também muito japonês. Quando chegou o momento de escolher o jantar reparámos que não havia nenhuma ementa em inglês e nenhuma das simpáticas senhoras que estavam a servir falava uma única palavra que pudéssemos compreender. Lá íamos apontando para as tempuras que estavam expostas, tentando ter alguma sorte, quando um senhor muito bem vestido, no seu fato impecável, sentado mesmo ao nosso lado, decide intervir com um inglês muito elementar, mas que para o efeito serviu para que tivéssemos algo para jantar.



Quando o verbal não é suficiente resta-nos a comunicação não verbal e neste caso abundaram os sorrisos, pois não só nós estávamos contentes e gratos, como este nosso novo amigo era, além de gentil, bastante bem-disposto e sorridente, o que fazia, aliás, um contraste muito interessante e inesperado com o seu perfil aparente de executivo de topo de alguma grande empresa. Conseguimos confirmar que ele próprio estava feliz por ter a nossa companhia no seu jantar, quando sem qualquer aviso prévio, pede uma garrafa de saké e divide por três enormes copos com as gotas de limão e a mistura certa de água. É claro que a partir daí iniciámos uma ‘irmandade’ que durou horas: falámos (o pior inglês possível), bebemos e rimos, rimos muito! Aliás quanto mais saké, mais riso… e o nosso amigo estava constantemente a encher os copos numa demonstração da arte de bem receber.

Ficamos a saber que se chamava Yukimori Takahashi e era diretor de uma grande empresa de comércio de aço com sede em Osaka, cidade onde vivia. Estava por estes dias sozinho em Hiroshima em trabalho. Além disto, na verdade, pouca mais informação partilhamos, pois a maior parte do tempo foi passada a usufruir do jantar, do saké e a rir, muito, às vezes riamos simplesmente porque…estávamos a rir.

Um pormenor curioso: num determinado momento da conversa, Takahashi diz que o seu nome em japonês significa “High Bridge”, o que de facto é uma coincidência feliz…o riso como a distância mais curta entre as pessoas.

No final do jantar, quando nos estávamos a despedir, Takahashi pede à empregada uma garrafa de saké e oferece-nos para trazermos para Portugal. Decidi só a abrir no dia do meu aniversário dos quarenta anos, que iria celebrar dois meses depois desta viagem. E assim foi! Quando fiz quarenta anos, abri a bela garrafa e bebi aquele saké, fazendo um brinde ao riso e à felicidade que aquele encontro trouxe. Guardo ainda a garrafa junto ao meu mapa mundo como um símbolo da poesia desta viagem.







Quando o verbal não é suficiente resta-nos a comunicação não verbal e neste caso abundaram os sorrisos!




O jornal The Observer publicou pesquisas que confirmam: uma atmosfera de brincadeira e de riso relaciona-se positivamente com a criatividade e a inovação! Parece que quando os colaboradores de uma empresa são autorizados a usar o ‘divertir-se com’ como uma forma de pensar no trabalho, aparecem com mais ideias, que acabam por poupar dinheiro ou gerar mais riqueza para a organização.

Outra grande vantagem de rir no trabalho é que o riso desanuvia o ambiente pesado e ajuda a gerir o stresse nesta época em que as pessoas estão tão pressionadas para atingir resultados. Sendo o stresse a velocidade de desgaste do nosso corpo quando tenta adaptar-se à mudança ou à ameaça, rir ajuda-nos a compensar esse desgaste ao desviar a atenção da tristeza e ao relativizar as preocupações. O riso fornece-nos uma purificação momentânea, uma libertação das tensões emocionais acumuladas. Como se costuma dizer, “se puder rir de uma coisa, poderá sobreviver a ela”.

Eis alguns hábitos que o podem ajudar a rir mais:

- Ver filmes, espetáculos ou ler livros cómicos. Pode fazê-lo sozinho, mas se puder rir em grupo terá um efeito maior. Diz a investigação que é trinta vezes mais provável que as pessoas riam quando estão em grupo do que quando estão sozinhas. Rir é contagioso! Por isso, veja filmes acompanhado, vá ver espetáculos de teatro cómico, de stand-up comedy ou de clown.

- Escolha o grupo de amigos com quem passa mais tempo também pelas gargalhadas que dá com eles.

- Veja a comédia na tragédia. Isto é, tudo tem um lado cómico. E esse distanciamento pode ajudar-nos a lidar melhor com os problemas. Quando acontecer algo aborrecido pergunte-se: “Qual é o lado engraçado disto?”

- Force as relações entre as coisas. Faça associações inusitadas, verá que isso o fará rir pelas combinações absurdas que vai gerar.

- Lembre-se das coisas que o faziam rir quando era pequeno. É muito provável que ainda o façam rir hoje.

- Não se afaste das diversões. Quando estamos tristes, muitas vezes recusamos convites para ir a lugares divertidos ou animados. Ainda que no início sinta que está a forçar, a maior parte das vezes acaba por ficar surpreendido com a mudança de humor que o contexto operou em si.

- Partilhe as situações que o fazem rir interiormente. Evite, no entanto, rir-se só dos outros. É muito mais interessante rir-se com os outros.

- Ria simplesmente. Olhe para o espelho e ria. O simples facto de forçar o riso vai alterar o seu estado emocional. Pediram a metade dos participantes de um estudo que segurassem uma caneta na boca diretamente entre os dentes (o que estimula a sorrir) e à outra metade que segurasse a caneta entre os lábios franzidos (simulando um franzir do sobrolho). A seguir pediram-lhes que examinassem desenhos humorísticos. Aqueles que tinham manipulado os músculos faciais para ficarem com a cara sorridente acharam os desenhos mais engraçados do que aqueles que tinham a cara carrancuda. Parece incrível, mas já Darwin previa a chamada “hipótese de retorno facial” que nos diz que a exteriorização de uma emoção a intensifica, isto é, se expressarmos manifestações físicas de alegria, é assim que nos sentiremos. O nosso rosto e o nosso corpo enviam sinais de ‘retorno’ ao cérebro para o informar de que estamos a experimentar uma determinada emoção, e isso fará com que a experimentemos!

- Brinque. Sem nenhum objetivo, sem a ansiedade de ganhar. Brinque, apenas pelo prazer de brincar, e de rir.

“Um dia sem rir, é um dia desperdiçado”, disse Charlie Chaplin. Não perca mais dias!


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