que essa mesma porta feche e só depois se sai em segurança. A isto não é alheio o facto da família já ter sido alvo de vários assaltos que causaram naturais perturbações.
Este episódio fez-me saltar para outro bem mais simples ocorrido igualmente no Brasil, mas desta vez no Nordeste. Ao vermos um individuo na berma da estrada a beber tranquilamente uma cerveja com roupas muito gastas e com aspeto de quem não teve uma vida fácil, pedimos uma qualquer informação e perguntámos se estava tudo bem. A resposta foi célere e adornada por um sorriso contagiante:
- Se melhorar estraga!
Indicadores
Alguém disse que viajar é a coisa onde se gasta dinheiro e se fica mais rico. Apesar de entender que há muito mais coisas para além desta que nos enriquecem, vou sendo tentado a concordar com esta afirmação, enquanto me vou focando naquilo que se passa no lado de cá do Atlântico. Ouvia recentemente cientistas pronunciarem-se sobre a saúde pública em Portugal e não pude deixar de reparar na insistência da jornalista, quando atirou diretamente a um epidemiologista a seguinte questão:
- Mas as medidas tomadas parecem-lhe acertadas?
A vontade de informar misturada com algum desejo de incendiar o debate não parece ter importunado minimamente o entrevistado que, antes de explicar com detalhe, disse calmamente que as medidas são tomadas num contexto e não podemos esquecer que o contexto de uma pandemia é dinâmico e portanto exige uma adaptação constante.
A montanha russa em
que temos viajado no passado recente tem tido sempre por perto uma salada russa de informações, que acaba por ser o reflexo de uma sociedade globalizada, imediatista, na qual não há espaço para o vazio. Sem dúvida que estamos confrontados com vários desafios que não afetam de igual forma todas as empresas, mas há desde logo um conjunto de indicadores macroeconómicos que não devemos subestimar. Temos já aí fortes pressões inflacionistas, temos uma dívida pública que no terceiro trimestre de 2021 atingia 131,4% do PIB e ainda que se possa argumentar que esta teve origem em medidas destinadas a mitigar os impactos da pandemia, o que é certo é que não há almoços grátis e portanto a fatura aparecerá e alguém vai ter que a pagar. Por outro lado, temos previsões de crescimento do PIB para 2022 que variam entre 4,9% e 5,5% vindas da OCDE e do Governo respetivamente, sendo que as análises mais profundas ficarão para os especialistas.
“Se eu voltasse atrás faria tudo da mesma forma”!
Quantos de nós já não ouviram esta frase lapidar?
Sempre que sou confrontado com ela, sinto como que uma quase reverência pelo orador, misturada com alguma perplexidade. Confesso que, no que a mim diz respeito, faria muitas coisas diferentes, já que as decisões são tomadas com a informação de que dispomos no momento, num determinado enquadramento e são influenciadas por muitíssimas variáveis. Claro que em consciência naquele instante seguimos o caminho certo, mas olhar para trás e assumir
que tudo seria feito da mesma forma, é notável. Tomamos milhares de decisões diariamente que têm impacto na nossa vida, na vida de outros e definem em parte o caminho que vamos seguir. Por isso mesmo, o local onde estamos hoje foi também fruto dessas decisões, não obstante a multiplicidade de condicionalismos que não tivemos possibilidades de controlar.
Se muitos sentem que o mundo parou desde Março de 2020, deixando-os num estado de prostração como que à espera de uma normalidade que teima em não chegar, muitos outros sentiram que essa paragem foi meramente ilusória pois constataram um salto de tal forma gigantesco, que nos parece ter retirado capacidade de o avaliar. A forma como nos cumprimentamos, o distanciamento social, as máscaras, as vacinações sucessivas, o uso massivo de desinfetantes, os testes, os confinamentos, a anestesia coletiva perante as notícias diárias até poderão ter sido mais ou menos circunstanciais, mas o mundo mudou! Segundo um estudo da McKinsey, já antes da pandemia 92% das empresas acreditavam que teriam que implementar mudanças nos seus modelos de negócio de acordo com o ritmo de digitalização da época. O que se passou foi que em poucos meses ocorreu uma aceleração correspondente a cerca de 4 anos, já que a transformação digital ditou em muitos casos a própria sobrevivência das empresas. Ainda estamos muito envolvidos para termos a verdadeira medida da mudança mas, em vez de mencionarmos hábitos de consumo, compras online e outros indicadores que revelam sem margem para