27 de Julho de 2021








ADRIANO RIBEIRO

CEO & partner bwd


O futuro vai chegar mais cedo!


Se há uma coisa que podemos desde já garantir sobre o futuro das organizações é que ele vai chegar antes do previsto.




As principais mudanças que reconfigurarão as empresas no futuro próximo estão já iniciadas nas recentes evoluções registadas no período de confinamento.

Algumas destas mudanças já vinham a rondar as organizações mas só interessaram verdadeiramente a alguns, poucos, sobretudo grandes empresas que viam nessas evoluções tecnológicas instrumentos para a sua diferenciação marginal positiva num mercado hipercompetitivo através de melhor oferta ou da geração direta de maior valor (com aumentos de produtividade, aumentos de qualidade ou de eficiência)







Mais eis que aparece a Covid-19. O período de confinamento com tudo o que de mau nos trouxe, foi um laboratório intensivo de alterações que nos permitiu recolher conclusões e dar agora saltos de inovação extraordinários.

Se no passado, demorou uma década ou mais para que as tecnologias evoluíssem de coisas novas e frescas para verdadeiros motores de ganhos de produtividade, a crise COVID-19 acelerou em vários anos essa transição em áreas como a inteligência artificial e a digitalização.

E esta aceleração na adoção e utilização de novas tecnologias na área digital está consolidada. Vemos as empresas moverem-se muitíssimo mais depressa do que pensavam ser possível Através destas tecnologias digitais em áreas como a construção de redundâncias na cadeia de abastecimento, a melhoria da segurança dos dados e utilizações avançadas nas suas operações.

Estamos a falar sobretudo da tecnologia que através das suas modalidades-estrela atuais - Digitalização, Automatização e Robotização - ganhou um protagonismo exponencial a que nenhuma empresa ficou imune, seja grande, média ou micro.

De tal modo que é já evidente que os ganhos de produtividade resultado desta revolução digital estão a acelerar definitivamente a Quarta Revolução Industrial.

E mais do que isso, a permitir que não só grandes empresas mas também as PMEs acedam á sua utilização e aos ganhos de eficiência que lhes permitem competir no mercado global.












Mas então em que se consubstanci­arão as mudanças para as empresas?

Um recente estudo da Mckinsey resume a meu ver muito bem aquilo que penso serem as principais tendências de mudança para as empresas:


1. vai-se consolidar o trabalho híbrido (local e remoto)








A intensidade digital dos dias dos trabalhadores aumentou substancialmente, com o número médio de reuniões a crescer constantemente desde o ano passado. Um trabalho realizado recentemente pela Microsoft sobre a evolução verificada em todos os seus escritórios, compara as tendências de colaboração na plataforma Microsoft 365 entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021 e apresenta algumas conclusões que acredito serem paradigmáticas nas quais acredito que todos mais ou menos nos revemos:

• O tempo gasto nas reuniões da Microsoft Teams mais do que duplicou (2,5X) a nível global e continua a subir.

• A duração média das reuniões é de mais 10 minutos, tendo subido de 35 para 45 minutos ao longo do ano.

• O utilizador médio das reuniões virtuais está a iniciar mais 45% de conversas por semana e mais 42% de conversas por pessoa fora de horas.

• O número de e-mails entregues a clientes em fevereiro, quando comparado com o mesmo mês do ano passado, aumentou 40,6 mil milhões.

• Houve um aumento de 66 por cento no número de pessoas que trabalham em documentos escritos.

E eu acrescentaria para as empresas do sul da Europa um outro fenómeno interessante:

• As reuniões iniciam-se a horas com todos os convocados presentes!

Podemos questionar as vantagens e inconvenientes destas alterações. Mas é incontestável que a maior parte destas mudanças vieram para ficar. Já não podemos confiar apenas nos escritórios para colaborar, conectar e construir capital social.

Há desafios importantes relacionados com esta transição do trabalho para fora do escritório começando por decidir o papel do próprio escritório, que é o centro tradicional para a criação de cultura e de um sentimento de pertença. As empresas terão agora de tomar decisões sobre tudo, desde o imobiliário (precisamos deste edifício ou piso?) até ao design do local de trabalho (que tipo de espaços, salas, mesas de trabalho) à formação e ao desenvolvimento profissional (existe tal coisa como orientação remota?).

Voltar ao escritório não pode nem deve ser uma questão de simplesmente abrir a porta. Em vez disso, tem de fazer parte de uma reconsideração do que exatamente o escritório traz à organização.

Neste âmbito, outro desafio não menos importante tem a ver com a adaptação da mão de obra às exigências da automação, digitalização e outras novas tecnologias utilizadas. Tudo pode ser feito sem conflitos ou disrupções, desde que devidamente preparadas e implementadas. A introdução de tecnologia sem conveniente preparação e adaptação das estruturas de RH das empresas pode ter consequências dramáticas, com custos significativos e impactos tremendos ao nível da sustentabilidade dos negócios.

Concluindo, o espaço físico continuará a ser importante. Somos animais sociais e queremos trocar ideias uns com os outros e experimentar a energia dos encontros presenciais. Mas será necessário investir no espaço de escritórios que precisa agora de ser capaz de fazer a ponte entre os mundos físico e digital para atender às necessidades únicas de cada equipa – e até papéis específicos. E fazer corretamente a transformação ao nível das equipas de RH.





2. assistiremos ao continuado crescimento da quota do comércio eletrónico e de novas formas de interação com os clientes


Como revelado num estudo recente da McKinsey, apenas 60% das empresas de bens de consumo dizem estar moderadamente preparadas para captar oportunidades de crescimento de e-commerce. Mas a tendência é clara: muitos consumidores estão a mover-se online. Para alcançá-los, as empresas também têm que ir lá.

Não se trata apenas de, como tantas vezes vemos erradamente, criar canais de comunicação com os clientes para expor catálogos e obter encomendas. Trata-se do aumento dramático da importância dos centros de distribuição e das estruturas de entrega para ser capaz de concretizar os negócios através destes novos canais.

Simultaneamente, o movimento para o on-line está também a alterar as estruturas de sourcing e de abastecimento. Porque este movimento não afeta apenas os negócios B2C mas também os negócios B2B.

Quando, em função dos recentes impactos da pandemia, as empresas começaram a estudar em detalhe como funcionavam as suas cadeias de abastecimento, perceberam três coisas principais:

a) Que as disrupções não são invulgares. Qualquer empresa pode esperar uma paralisação que dure um mês a cada 3,7 anos. Tais choques estão longe de ser surpreendentes: são características previsíveis nos negócios que precisam de ser geridos como qualquer outro.

b) Que as diferenças de custos entre os países desenvolvidos e muitos países em vias de desenvolvimento estão a diminuir. Na indústria transformadora, as empresas que adotam os princípios da Indústria 4.0 (ou seja, a aplicação de dados, análise, interação homem-máquina, robótica avançada e impressão 3D) podem compensar grande parte do diferencial de custo de mão de obra com os países concorrentes.

c) Que a maioria das empresas não tem uma boa ideia do que se passa mais abaixo nas suas cadeias de abastecimento, onde mesmo os fornecedores de segunda ordem podem desempenhar papéis pequenos, mas críticos. É também aí que a maioria das perturbações aparece. Mas dois terços das empresas dizem que não conseguem controlar os compromissos de abastecimento com os seus fornecedores.



3. A transformação digital continuará – as empresas incorporarão cada vez mais ferramentas de automação e Inteligência artificial


A crise COVID-19 criou um imperativo para as empresas reconfigurarem as suas operações e uma oportunidade para as transformar. Na medida em que o façam, uma maior produtividade seguir-se-á.

O desenvolvimento das ferramentas baseadas em inteligência artificial e análise de dados, permite ás empresas auditar, conectar-se aprender mais sobre a sua operação e as suas cadeias de valor.

As empresas iniciaram já a adoção destas ferramentas para lidar com as perturbações do COVID-19 e vão acelerar a sua adoção nos próximos anos, colocando mais robôs em fábricas e armazéns e adicionando quiosques de clientes self-service e robôs de serviço na área de interação do cliente.

Concluindo, o futuro próximo das empresas será marcado pela digitalização das suas operações. Sendo que agora as PMEs que até aqui se colocavam quase sempre num segundo plano em termos de adoção das novas tecnologias estão claramente capazes de aceder á sua rápida integração permitindo-lhes ganhos de eficiência e competitividade essenciais ao sucesso e sustentabilidade dos seus negócios. As empresas mais esclarecidas saberão adaptar-se e incorporar rapidamente estas alterações de forma inteligente incorporando na sua operação o melhor que a evolução digital lhes traz, evitando os aspetos negativos das alterações radicais e exageradas.

Mas as mudanças são inevitáveis: Somos todos forçados nas nossas empresas e organizações a re-examinar os nossos rituais diários, comportamentos sociais e pressupostos culturais. E á medida que voltamos ao nosso “normal”, teremos de decidir que padrões socioculturais queremos preservar num mundo inevitavelmente mais digital.



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