JOSÉ CARLOS PEREIRA
Especialista em Vendas e Negócio Internacional
Fotografias D.R.
E que tal passar do mundo VUCA para o mundo BANI?
Ficou curioso? O que é isso do BANI, quando já andamos cansados do VUCA?
A frase “Estamos num VUCA world.”, das últimas três décadas, já cansa (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity). VUCA é o acrónimo para abordagem a um mundo/mercado volátil, incerto, complexo e ambíguo.
E espantem-se, pois, embora de uso recorrente nos últimos anos, esta terminologia surgiu no final dos anos 80 com o desmembramento da URSS e o aparecimento de um novo formato de guerra fria – depois foi também aplicada a cenários na Guerra do Golfo de 91. Simplificando, era uma estratégia de abordagem a cenários de guerra, segundo os registos a que tive acesso. Passou depois para a linguagem do mundo dos negócios, sendo transversal à formulação da estratégia empresarial de exploração de mercados internacionais.
Com um mundo acelerado de transformação nos últimos meses, julgo que já não se retirará grande proveito deste modelo de abordagem. Estamos, então, num período que vai muito para além da complexidade e aponta para uma aproximação ao caos. Veja-se a atual pandemia, saúde pública, política e economia internacional, para não falar das alterações climáticas, que tocam a todos direta ou indiretamente. E é este novo mundo BANI que quero explorar neste artigo.
Traduzindo o acrónimo, falamos agora de um novo mundo que é Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível (Brittle, Anxious, Non-linear and Incomprehensible). Julgo fazer muito mais sentido nos tempos que correm, e quem pela primeira vez o referiu foi Jamais Cascio há cerca de meio anos (ver o artigo “Facing the Age of Chaos” na medium.com).
Fará sentido esta nova visão? Estará mais adequada à turbulência atual que __
todos vivemos? Aplica-se para os próximos anos?
Vejamos: aquilo que observamos como volátil passou a não ser confiável; a incerteza vai para além da insegurança e desagua em ansiedade; a complexidade passou a ser explicada por sistemas lógicos não-lineares; e a ambiguidade traduz-se, agora, em grande incompreensão.
# FRÁGIL (BRITTLE)
Não podemos confiar em algo que facilmente pode ser destruído e posto em causa, principalmente em ambientes turbulentos. Mesmo que o nosso sistema nos pareça confiável, flexível e inabalável, já demos conta que não é bem assim. No nosso atual mundo BANI, o modelo capitalista de globalização de mercados pode até parecer forte, mas não é, como nestes últimos meses ficou bem demonstrado; ou foi colocado em causa, tal como o conhecemos – crescimento das economias a todo custo e crescimento de resultados em empresas sem sustentabilidade, por exemplo.
Já concluímos que estamos todos conectados e ligados. Esta crise económica nas cadeias globais de valor veio, provavelmente, desacelerar o processo de integração e a dinâmica comercial entre os países e mercados (nem que seja temporariamente), com impacto direto no comércio internacional e até no modelo de organização industrial e logístico. Os impactos na produção e no consumo foram brutais – com grande parte das cadeias de abastecimento e de consumo interrompidas – emergindo experiencialismos económicos e sociais sobre os quais ainda desconhecemos
repercussões diretas e colaterais.
Ou seja, a interrupção de um sistema num país pode colocar em causa outros sistemas, e não há um sistema de segurança global que impeça essa quebra ou destruição. Veja-se, por exemplo, o abastecimento de alimentos, o fornecimento de energia ou mesmo o comércio internacional.