ALEXANDRA O'NEIL
Co-Founder and Manager of SATT Aviation
Fotografias D.R.
A viagem do ano de 2020
Chegando ao último mês do ano de 2020, somos naturalmente tentados a sobrevoar os acontecimentos e experiências, tentando avaliar e tirar lições para próximas viagens.
uase em modo de debriefing, talvez caracterizemos a viagem do ano de 2020 como desafiante, de exigências redobradas, mas também de oportunidades de aprendizagem e aperfeiçoamento singulares e acrescidas. Tal como antes de qualquer voo se deve efetuar a sua meticulosa preparação, mitigando riscos e antecipando cenários, talvez todos nós, como humanidade ou sociedade, como organizações, tecido empresarial e político, devêssemos ter antecipado o risco e mitigado o mesmo através de cenários talvez demasiado prováveis.
Recordando a descolagem, iniciámos o nosso voo com a pretensão e talvez mesmo presunção, de que tudo é cíclico e garantido, que a liberdade conquistada pela nossa história é inegável, e não incalculavelmente frágil e efémera, como na realidade o aprendemos.
Partimos para a nossa viagem de 2020 confiantes e despreocupados com os aspetos fundamentais da nossa sobrevivência e mesmo felicidade, descurando o essencial papel da proximidade, do sorriso e do abraço. Continuámos pelos primeiros pontos significativos da nossa rota ignorando sinais evidentes da fragilidade global, considerando que na nossa eterna segurança nos direitos adquiridos, e perspetiva de futuro certo e perfeitamente antecipável, teríamos somente de nos preocupar com cumprir com os planos estrategicamente definidos com adaptações e visões estabelecidas. Considerámo-nos flexíveis, moldáveis e disruptivos quando ainda nada sabíamos sobre a verdadeira clivagem que a necessidade efetiva nos pode trazer.
E assim, enquanto avançávamos, percebemos que afinal, temos efetivamente de ter consciência situacional, neste mundo global. Que não somos invencíveis, independentes e autónomos, que somos parte de uma frágil engrenagem que nos pode limitar no que consideramos como o mais essencial.
Nesta fase de aproximação, mesmo sem pista à vista, confiamos na nossa experiência e conhecimento para nos ____
apoiar na efetivação de uma aterragem segura, que nos permita acreditar em viagens futuras. Aprendemos assim de forma forçada e acelerada o que efetivamente é relevante para chegar ao nosso destino, e também o que realmente nos move para o alcançar.
Futuras viagens apenas serão possíveis para quem assim o faça.