A formação é o modo mais comum de trazer conhecimento para
as empresas.
Mas, será a formação, per se, condição para criar
conhecimento dentro de uma organização?
A resposta é “Não!”. Só com uma ação pensada e planeada de
forma estratégica, será possível desenvolver competências, criar e partilhar
conhecimento dentro de uma organização.
É certo e sabido que o tecido empresarial português é
constituído na sua maioria por pequenas e médias empresas (PME). Neste conjunto
estão incluídas as pequenas, as médias e as microempresas, que totalizam 99,9%
do tecido empresarial português. Sendo que 96,1% são microempresas.
De acordo com um estudo efetuado pela Comissão Europeia, os
principais problemas detetados nas PME, inclusive as portuguesas, são a carga
administrativa e regulamentar, o acesso ao financiamento, a fiscalidade e a
falta de competências.
Este contexto pressiona as empresas para a redução de custos
que também se fazem sentir na formação.
Se existe uma contenção nos custos com a formação,
paralelamente, existe também o preconceito de que há falta de tempo para os
colaboradores participarem em sessões de formação.
Esta mentalidade não facilita o desenvolvimento de
competências ou a renovação do conhecimento dentro das organizações.
O processo de criação de conhecimento dentro de uma organização
é complexo e depende de três elementos essenciais: a conversão do conhecimento
tácito em explicito, os espaços que propiciam a criação de conhecimento e os
recursos do conhecimento.
O conhecimento tácito existe apenas dentro do individuo. É
um resultado das suas experiências, das suas crenças e do seu sistema de
valores. O explicito é o conhecimento racional que resulta da teoria.
A interação entre estes dois tipos de conhecimento amplia
quando é partilhado, gerando uma espiral em expansão.
Para se perceber melhor esta ideia, sempre que uma empresa
contrata recursos de elevadas competências técnicas, renova o conhecimento dentro
da organização. Estes recursos trazem consigo novos conhecimentos e acesso a
novas fontes que ajudam a alimentar o conhecimento organizacional e
conferem-lhe carácter dinâmico. Se a isto adicionar-se um ambiente de partilha
dentro da organização, será criada uma espiral de conhecimento.
O conceito de
espaços de partilha de conhecimento foi desenvolvido por um filósofo Japonês
Kitaro Nishida, que os chamou de Ba, cuja tradução significa “lugar”.
O Ba é o espaço propício
para a criar, utilizar e partilhar conhecimento. Pode ser físico, virtual e
mental ou uma combinação entre estes.
O Ba é a forja onde
se forma o conhecimento organizacional, onde se dá a interação entre a partilha
de conhecimentos e experiências.
As redes de intranet,
as salas de reuniões, o lugar onde se realiza um brainstorming, uma sala de
formação, os locais de socialização entre indivíduos, são Ba. Potenciam a
criação e partilha de conhecimento.
O terceiro elemento
do processo de criação de conhecimento são os recursos. São as entradas e
saídas. A intranet, as tecnologias, os processos e procedimentos, documentos e
especificações, etc., são recursos do conhecimento.
A interação entre os
três elementos do conhecimento permite dinamizar os recursos do conhecimento e
mobilizá-los para o Ba onde são convertidos e partilhados.
Receber formação
pode ajudar a criar conhecimento. A formação contém os três elementos do
conhecimento quando é desenhada estrategicamente e adaptada à realidade da
empresa, destinada a suprir uma lacuna existente.
Mas a estratégia e a
adaptação não acontece na maior parte dos casos. A formação funciona como uma
fonte e um recurso do conhecimento, mas não existem condições de um Ba, que
permitam a transferência e partilha com a intenção de criar a espiral.
Neste modelo de
criação de conhecimento dá-se especial destaque ao lugar (Ba), onde o
conhecimento é criado. Não é mero acaso!
Através da
organização do trabalho, a empresa constrói toda a estratégia para criar
conhecimento. Os Ba criados desempenham um papel muito importante, são os
facilitadores da criação de conhecimento. Nestes espaços, emerge confiança e
compromisso que são a base da criação do conhecimento entre indivíduos.
Dificilmente existirá
um único Ba. É a combinação estratégica dos Ba físico, mental e virtual que
permite a dita conversão do conhecimento tácito em explicito ou explicito em
tácito.
Escolher o lugar faz
parte de uma estratégia pensada e trabalhada. Antes desta escolha, é criada uma
cultura propícia e coerente através de políticas, onde a comunicação tem um
papel de extrema importância.
É muito difícil
criar conhecimento em empresas com falta de competências e onde a formação é
vista como um custo ou falta de tempo.
Gerir a partilha de
conhecimento implica definir quem são os intervenientes na interação, as fontes
do conhecimento e o lugar de partilha e exige criar uma cultura propícia e profissionalizar
a gestão.
Uma forma simples de pensar o conhecimento dentro das
organizações é começar a trabalhar os 3 C´s: conhecimento, colaboração e comunicação.
Hoje, mais do que nunca, o conhecimento organizacional vai ser necessário, não apenas para o sucesso empresarial, mas para a sobrevivência das empresas.