Então, a proposta que tenho para o artigo de hoje é seguirmos em conjunto o caminho exatamente oposto – o do risco, da rebeldia, da disrupção, da incerteza.
E não é apenas por eu ter uma costela de “contra o sistema”.
De facto, a única forma de se transformar qualquer sistema em algo melhor é estar dentro dele, identificar o nosso radar de influência e decisão e trabalhar focado nesse ponto de transformação. Como disse Gandhi, nós próprios temos que ser a mudança que desejamos ver no Mundo. Self Leaders.
Eu acrescento que temos que ser Rebeldes. Com uma Causa. E o primeiro lugar onde essa rebelião deve começar dentro de nós.
Então como se pode criar uma Rebelião Positiva dentro de nós próprios, no âmbito profissional de Liderança e Gestão?
O meu trabalho como Coach, Consultor Colaborativo e Facilitador está suportado em atividades de “rebeldia alinhada prática” que permite de forma orgânica um trabalho intuitivo de Consciência, Transformação e Ação, de Pessoas, Equipas e Negócios (Produtos, Serviços e Processos).
Acredito de facto que ser Rebelde é uma competência necessária para sermos bons líderes e gestores – Rebel Leaders. E ser rebelde não é ser contra algo, é ser a favor de algo melhor, equilibrado e human centric.
Assim sendo, obviamente que esta abordagem implica um paradoxo – Pessoas e Organizações devem ser adolescentes e adultos de forma simultânea:
No seu livro, Rebel Talent, a cientista social Francesca Gino argumenta que os líderes devem encorajar a rebeldia corporativa e que esta poderá trazer uma maior realização às pessoas e criar uma cultura mais aberta, orgânica e saudável nas empresas. Estou totalmente de acordo.
Quando falo em Rebeldia, não falo de jovens a hackear tudo e mais alguma coisa, ou gestões intermédias a serem desrespeitosas com as suas hierarquias, clientes e parceiros. Não é sermos rebeldes só por ser.
Acima de tudo, falo mais num conceito de rebeldia materializada através do auto-conhecimento próprio, curiosidade genuína pelos outros e pelas suas competências e de conseguirmos de alguma forma “quebrar” as regras (leia-se hábitos) que impedem a exploração de novas ideias ou o equilíbrio e o bem-estar de todos.
Se o que leste até agora te causou alguma curiosidade e vontade de fazer diferente, estão existe um Rebelde Corporativo em ti.
Os traços que os Rebeldes Corporativos possuem em comum são normalmente uma procura pelo novo, uma curiosidade pela sua área e/ou ecossistemas adjacentes e até mesmo longínquos, um sentido de perspetiva, um gosto enorme por interagir com pessoas e pontos de vista diferentes e uma paixão enérgica e disciplinada em serem eles próprios e autênticos .
Mas como poderão então Líderes e Gestores – Rebel Leaders – navegar em todo este caos, energia e “descontrolo”? Como podes ser um Rebel Leaders/Manager?
Os locais, os processos, as ferramentas de gestão são perpetuadores de hábitos de reflexão racional e execução lógica. O VUCA já não permite isto. É necessário criar momentos formais de exceção ou afastamento do que é a rotina e hábito que nos possam trazer para o contacto com as nossas inteligências múltiplas.
Em vez de procurar e ouvir de forma consistente alguém que pensa como nós, os Rebel Leaders contrariam esse instinto e encontram formas de ter acesso a visões diferentes e mergulhar em discussões saudáveis . Se tens o poder de contratar a tua equipa, contrata alguém que seja boa pessoa e que ao mesmo tempo possa permitir-se não concordar contigo.
Os rebeldes raramente escondem quem realmente são e não costumam ter o hábito de tentarem ser quem não são. Fazem isso com uma inteligência emocional elevada para que possam comunicar aos outros as suas forças e pontos de melhoria. Essa transparência leva a que ganhem a confiança, respeito e admiração dos outros.
É necessário colocar em prática a neuro plasticidade (racional) e o desapego (emocional). Para conseguirmos acompanhar estes tempos de VUCA, temos que saber o que é que anda aí, o que é que precisamos saber ou dominar, e o que teremos que abdicar ou o que já não faz sentido fazer. E estar abertos e recetivos a essa abundância e possibilidades de mudança.
Por paradoxal que pareça, são as restrições e os momentos difíceis que conseguem extrair no nosso íntimo o nosso melhor. As restrições são um ótimo ecossistema de inovação e transformação. São um tufão que o rebelde aproveita ao saber cuidar e orientar muito bem as velas do seu navio.
Colocar as mãos na massa, sujar as mãos, ir ao local onde as coisas acontecem, fazer o que é preciso para a entrega de valor e não basear essas decisões no que é suposto hierarquicamente fazer. Somos Pares, somos todos Um.
Para tudo isto ser uma Realidade, reafirmo que a maior Rebelião deve começar em primeiro lugar dentro de Mim e de Ti. E isso só acontece através de uma boa interação entre a Ação&Aceitação e saber quando é que cada uma delas faz sentido.
Por fim, deixo uma frase do Bhagavad Gita, um dos maiores textos religiosos hindus:
Do que sei sobre Rebeldia, parece-me uma verdade insofismável.
Porque a melhor forma de sermos livres não é uma vida sem responsabilidades, é ter uma vida desenhada para que possamos ser nós a escolher as responsabilidades que queremos assumir e que fazem parte do nosso Caminho.