“World State of Quality” Perfil de Portugal!

A utilização de indicadores é uma prática muito comum nos mais diversos setores e âmbitos de atividade, nomeadamente com vista à priorização de projetos e das melhorias a introduzir numa determinada organização ou território.

Paulo Sampaio
1 de Dezembro de 2018

Já Lord Kelvin o dizia em pleno século XIX, ao afirmar que “Apenas quando conseguimos medir aquilo de que falamos, através de um número, estamos em condições de saber verdadeiramente alguma coisa sobre o assunto”.

Do mesmo modo que as organizações precisam crescentemente de conhecer o estado em que se encontram, com os correspondentes níveis de desempenho devidamente quantificados, torna-se cada vez mais claro que também os territórios e países precisam de conhecer os resultados alcançados, incluindo um confronto adequado entre as suas posições e as que são alcançadas por outros territórios ou nações. Podem assim ficar a perceber melhor quais as suas forças, mas também identificar áreas de melhoria, sendo para esse efeito crucial a escolha dos dados, dimensões e fontes de informação a ter em conta para esse mesmo fim (Hollanders, Es-Sadki, & Kanerva, 2015; Kelley & Hurst, 2006; Mainz, 2003).

Atualmente são vários os relatórios publicados em áreas como Inovação, Saúde, Sustentabilidade, Felicidade, Educação, Empreendedorismo. Porém, uma pesquisa relativamente exaustiva veio mostrar que não foram produzidos até ao momento estudos semelhantes para a área da qualidade, que permitam confrontar diferentes países em termos dos meios e resultados alcançados neste mesmo universo. Ora, dentro de um entendimento multiescala da qualidade, esta pode e deve ser medida de acordo com várias escalas, que abrangem diferentes dimensões no tempo e espaço (Figura 1 - Qualidade multinível).


Torna-se importante pensar a qualidade segundo uma abordagem de “Qualidade Glocal”, combinando aspetos locais e globais de modo a não apenas “pensar global e agir localmente”, mas também “a pensar local e agir globalmente” (Saraiva, 2015; Saraiva & Sampaio, 2016).

Foi este o contexto em que se desenvolveu o projeto “World State of Quality” , posicionado na esfera da macroqualidade, que visa igualmente suprir a lacuna identificada de ausência de abordagens capazes de posicionar as diferentes nações no universo da qualidade . A macroqualidade tem que ver com a qualidade e a forma como um país ou um conjunto de países olham para esta em termos de estratégias e políticas,incluindo as organizações, mas também as entidades públicas e governamentais, além dos cidadãos (Robert et al., 2011; World Health Organization, 2002).

Numa primeira fase, por facilidade de acesso a indicadores, estudaram-se os desempenhos dos 28 países da União Europeia (UE), refletidos nos valores de 2016 obtidos para o European Quality Scoreboard (EQS). Para uma análise mais detalhada da totalidade dos resultados alcançados, remete-se o leitor para a versão integral do relatório (http://wsq.dps.uminho.pt/) apresentando-se de seguida algumas das principais constatações das posições alcançadas por Portugal.

O Perfil de Portugal


A observação das posições relativas alcançadas pelo nosso país, quer para cada um dos 21 indicadores (R01 a R21 na Figura), quer de forma agregada, permitem retirar o seguinte conjunto de constatações essenciais:

  • De modo agregado, em função dos valores de OEQS, o resultado de Portugal corresponde a 14,4, naquilo que corresponde ao 15º lugar no contexto dos 28 Estados-Membros da UE, querendo isto dizer que nos situamos na liderança da terceira categoria de países (Moderate);
  • Trata-se de um resultado apesar de tudo interessante, mostrando que aparentemente em termos de macroqualidade, ao ocupar a 15ª posição, Portugal se encontra mais bem posicionado na UE do que em muitos outros domínios de análise (e.g. PIB, inovação, propriedade industrial), onde tipicamente nos situamos alguns lugares abaixo, várias vezes na proximidade do 20º lugar;
  • Pela positiva, com valores dentro do top 10, encontramos os indicadores Número de Membros da International Academy for Quality (4º lugar), Bem-estar e Sustentabilidade Ambiental (5º lugar),Número de Entidades Certificadas pela Norma ISO 9001 e Taxa de Mortalidade Infantil (10º lugar);

  • Por sua vez, do lado menos positivo, com valores de ranking igual ou abaixo do 20º lugar, encontramos os indicadores Índice de Gini (20º lugar), Satisfação com o Emprego (21º lugar), Qualidade de Vida e Taxa de Desemprego (24º lugar).


Do estudo detalhado dos resultados nacionais, bem como para os demais países de UE, pode emergir uma visão bastante lúcida daquilo que temos sido capazes de alcançar mas igualmente das prioridades subjacentes a uma agenda nacional de consolidação da qualidade, capaz de ambicionar fazer-nos subir futuramente algumas posições neste “Campeonato Europeu da Qualidade”, incluindo a legítima tentativa de subir à “segunda divisão” deste mesmo campeonato, com ascensão ao grupo dos países “Follower”.

Depende também de todo e cada um de nós lutar para que assim aconteça efetivamente! Saiba mais sobre este tema. (http://wsq.dps.uminho.pt/)

Artigo em formato PDF

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