O mundo
está cada vez mais interligado. Com os mais recentes desenvolvimentos
tecnológicos (nomeadamente a proliferação de plataformas e marketplaces)
tornou-se possível globalizar o mercado da partilha dos activos (bens ou
serviços). Está, por isso, a redefinir-se a natureza do trabalho, na
sua forma, local e conteúdo.
O que é Collaborative ou Sharing
Economy: A economia partilhada é um sistema socioeconómico que se
desenvolve ao redor da partilha de recursos humanos e físicos, tais como,
conhecimento, habilidades, tempo, bens, carros, roupas, comida, casas, etc. Na
maioria dos casos une pessoas que têm activos, que não estão a ser
eficientemente aproveitados, com pessoas que querem fazer algum dinheiro extra,
com pessoas que não têm possibilidade (ou não querem) comprar, mas sim usar.
Esta nova economia desenvolve a
interdependência, o que vem contra a sociedade tradicional que privilegia a
posse. Porque estará esta nova forma de economia a ganhar aderência de
forma tão significativa? Porque permite a várias pessoas terem acesso,
de forma facilitada e equilibrada (economicamente), a casa, transporte, comida,
entretenimento, roupa, etc.
Permite ainda desenvolver uma nova forma
de trabalhar, não
só em termos de espaço (co-work, que são escritórios em open
space em que cada um arrenda as secretárias/espaço que necessita), mas
também de conteúdo. Hoje em dia é possível ter três ou quatro empregos, sendo
que um deles até pode ser full-time e os outros representam
meras fontes paralelas de rendimento, que podem passar por actividades tão
diversas, como ser motorista da Uber ou prestador de serviços especializados ou
indiferenciados (via plataforma Zaask, por exemplo).
COMO SE
CRIA UMA ECONOMIA PARTILHADA?
Tem de existir um sentimento de confiança, pois só assim consegue partilhar o
que é seu e usar o que outros partilham. Se não confiar não vai certamente
entrar no carro de um estranho, dormir numa casa de pessoas que nunca viu, ou
entregar documentos a um prestador de serviços desconhecido.
Portanto, a reputação na sharing
economy é fundamental, daí todos os ratings usados
nas diferentes plataformas. Sem essa reputação não há propagação do negócio.
Também os próprioas clientes são avaliados e podem não conseguir usufruir dos
serviços se tiverem maus ratings. Não faltará muito para a
reputação ser portátil e ser possível conhecer as diferentes performances da
mesma pessoa como motorista da Chef que vai a casa de clientes
cozinhar, cliente da Airbnb ou de um serviço de bike-renting…
Esta “nova economia”, que nos transporta
para os seus primórdios, ou seja, troca directa, teve igualmente como base
princípio de pessoa-para-pessoa, contudo a tecnologia permitiu escalar
rapidamente os negócios e hoje já se encontra nesta área empresas de referência
a nível global. Estas têm conseguido fazer a ligação entre a oferta e a
procura, gerando maior eficiência económica ao aproveitar muitos dos recursos
disponíveis. Quase todas as empresas têm uma forte componente tecnológica e
muitas são plataformas ou marketplaces. A característica principal
é que não precisam de deter propriedade, mas conseguem efectuar a ligação entre
proprietário e utilizador: a Uber, maior empresa de transporte de pessoas, não
tem carros, e a Airbnb, que é hoje “o” maior hotel do mundo não possui qualquer
quarto.
Estes modelos de negócio foram disruptivos
e, desde logo, desenvolveram vários novos empregos e empresas à sua volta. Pode
afirmar-se que este tipo de disrupção já aconteceu no passado, como foi o caso
da indústria discográfica, e da fotografia digital. A grande diferença é a
velocidade a que estas mudanças estão a ocorrer, bem como a sua simultaneidade.
As grandes multinacionais da economia
tradicional estão muito pressionadas, pois quanto mais as pessoas partilharem
menos vão comprar novo. Por isso, também estas empresas estão a fazer a sua
adaptação, por isso, já vemos alguns dos grandes players da
indústria automóvel a criarem plataformas onde as pessoas podem partilhar
viaturas.
Dada a velocidade da mudança, estas novas
empresas beneficiam da falta de regulação e aproveitam esse espaço para
crescerem e lucrarem rapidamente. A solução passará menos pela proibição e mais
por adequar a legislação para que todos possam operar sob as mesmas regras que
devem proteger o cliente/utilizador.
“PERIGOS”
DA SHARING ECONOMY
Numa relação contratual entre empregador e
empregado há riscos de ambas as partes. Nestes novos negócios há
uma mudança em relação a quem corre risco, ou seja, nestas circunstâncias, o
mesmo passa na totalidade para o trabalhador/prestador de serviços. Essa
é cada vez mais a realidade. Por exemplo nos Estados Unidos da América, uma em
cada três pessoas é hoje free-lancer.
Por esta razão há quem designe esta nova
economia não de partilha, mas de desespero em que as pessoas aceitam trabalhar
sobre condições de enorme insegurança. Mas a flexibilidade que esta opção dá à
gestão de vida pessoal e profissional levou milhões a seguirem este caminho
(certamente nem todos por vontade própria). Quem o fez conscientemente
necessitou de coragem, capacidade de empreender e, acima de tudo, acreditar em
si e nas suas competências.
A mudança de paradigma está obviamente
relacionada com uma nova cultura que tem por base as novas gerações. Os millenials têm uma
filosofia de vida diferente, onde a posse é algo que não valorizam. Nos EUA
três em cada quatro millenials prefere pagar um serviço,
experiência ou evento do que ser proprietário de algo.
A sociedade encontra-se perante uma nova
forma de trabalhar e de criação de emprego que parece não ter retrocesso.
Projecções indicam que nos EUA os 16 biliões de dólares gerados em sharing
economy em 2016, serão 336 biliões em 2025.
É então urgente que a sociedade, e,
sobretudo, os governos, saibam lidar com este novo cenário e tentem proteger os
mais desprevenidos. Para além de regulação e legislação poderá ser necessário
criar um sistema de apoio social que permita dispor de algum tipo de protecção
durante o período em que não haja trabalho.
Vivemos tempos muito interessantes, mas também dificeis, pois tudo acontece muito depressa, talvez até demasiado depressa, e a tendência é para que a velocidade aumente. As culturas mudam porque as mentalidades mudam, porque as pessoas mudam. Estamos a assistir e a viver essa mudança pelo que também nos cabe decidir se queremos ser parte activa da mesma ou meros espectadores.
Artigo originalmente publicado em http://visao.sapo.pt